A resposta, como um náufrago recém-resgatado revelou, é beber sangue de tartaruga e ter uma força mental incrível.
O maior problema enfrentado por aqueles à deriva em mar aberto é bem resumido por Samuel Taylor Coleridge em seu poema “The Rime Of The Ancient Mariner”: “Água, água, em toda parte, nem uma gota para beber”. Um ser humano pode sobreviver por cerca de três semanas sem comida quando ele tem água, mas perecem ao ficar no máximocinco dias sem líquidos. Ver em Mais Informações
Na ausência de água potável, um homem, depois de sobreviver em seu minúsculo barco quebrado por surpreendentes 13 meses às margens de uma remota ilha do Pacífico, se manteve vivo por um meio um tanto peculiar: bebendo sangue de tartaruga.
José Ivan deixou o sua cidade natal no México no dia do Natal de 2012 para uma curta viagem de pesca de tubarão com um acompanhante. Entretanto, não muito tempo depois de zarpar, o desastre aconteceu quando os motores do seu barco de fibra de vidro perderam suas hélices. Os dois homens foram deixados à mercê das correntes oceânicas. Eles percorreram quase 13 mil quilômetros a oeste das Ilhas Marshall – um ex-território americano a meio caminho entre o Havaí a Austrália, e um dos pontos mais isolados do planeta.
O companheiro de Ivan morreu há vários meses, deixando-o para ganhar a vida sozinho, bebendo água da chuva quando era possível, e alimentando-se de pássaros, peixes e tartarugas, que ele capturava e rasgava em pedaços apenas com as mãos (nenhuma vara de pesca foi encontrada em seu barco).
Quando não chovia, Ivan era forçado a beber o sangue de tartaruga. É rica em ferro e proteínas, e fornece o mesmo tipo de nutrição de bife e ovos. Ele também fornece certa hidratação, embora não de forma tão eficaz como a água da chuva. Não se sabe se ele chegou a comer os olhos das tartarugas, mas especialistas afirmam que eles são a parte mais rica em fluidos de seu corpo.
Quando Ivan, cuja situação tem paralelos com o filme de Tom Hanks, Náufrago, foi descoberto em um recife de coral no Ébano Atoll, havia uma tartaruga escondida no pequeno porão do seu barco maltratado. Além disso, o homem estava quase morto de fome, com cabelos longos e uma barba desleixada.
Gravemente queimado, desidratado e magro, Ivan foi atendido em uma propriedade do governo, onde foi alimentado e reidratado. Como ele não falava Inglês e nenhum dos 700 moradores da ilha falava espanhol, ele teve de usar desenhos e gestos para explicar a sua história surpreendente para o prefeito, Ione de Brum. O prefeito disse: "Nós estamos dando-lhe alimentos nutritivos da ilha e ele está ficando cada vez melhor. Ele tem dor em ambos os joelhos, mas, como um todo, ele está bem”. Ivan apresenta sinais de pressão arterial baixa, mas não parece haver nenhum sinal de efeitos físicos de longa duração, mesmo depois de passar tanto tempo no mar.
Ele foi encaminhado para Majuro, a capital das Ilhas Marshall. Numa ironia cruel, o único avião do arquipélago capaz de pousar em Ébano está em manutenção e, por isso, Ivan teve de viajar de barco. “Eu só quero voltar para minha casa no México, mas eu nem sei onde estou: eu só estou cansado e triste", disse Ivan em uma ligação telefônica das Ilhas Marshall no fim de semana. “Eu estou desesperado e quero voltar para o México, mas eu não sei como”.
Ola Fjeldstad, um estudante de antropologia norueguesa que trabalhava em Ébano, falou com Ivan e afirma: "Sua condição não é boa, mas ele está ficando cada vez melhor". A oportunidade de pesquisa que Jose Ivan apresenta a qualquer antropólogo é um estudo de caso de ouro, porque, se a história dele é verdadeira, Ivan é um náufrago que sobreviveu por um tempo recorde, e irá ficar para a história.
Os desafios físicos associados a estar à deriva no mar são testes severos, mas não insuperáveis. Nas águas quentes e férteis do Pacífico, pode haver comidadisponível na forma de tartarugas e peixes, que, muitas vezes, se reúnem perto de pequenos barcos para se abrigar debaixo deles, podendo ser apanhados com a mão. Se a vítima não tem conhecimento do que a natureza marinha pode oferecer, eles só podem enfrentar uma morte lenta e agonizante.
Nos últimos anos, outro caso de sobrevivência no mar como o José Ivan foi o de uma família de três mexicanos, também à deriva no mar perto das Ilhas Marshall. Eles sobreviveram com peixes, pássaros e água da chuva por nove meses em 2006. O pai, Dougal Robertson, estava navegando em seu barco em Lucette, do Panamá para as Ilhas Galápagos, quando teve um furo feito por ‘baleias assassinas’.
Eles só tinham seis limões, dez laranjas, uma lata de biscoitos, um saco de cebolas e metade de um quilo de doces de glicose para sustentá-los. O mais preocupante é que só havia água suficiente para dez dias. Ninguém sabia que eles estavam em alto mar. E, assim como José Ivan, a família dependia do sangue de tartaruga para a sobrevivência. Após seu resgate, Douglas disse: “Você tem que bebê-lo rapidamente, pois, caso contrário, o gosto faz você querer vomitar".
Ajudou, também, que a mãe, Lyn, tinha treino de enfermeira. Ela sabia sobre as propriedades curativas do óleo de tartaruga, e a carne não iria ser diferente. Fundamentalmente, Lyn estava ciente do perigo que era beber o líquido da parte inferior do barco: uma combinação de sangue poluído, vísceras de tartaruga e água da chuva. Isso teria sido venenoso se tomado por via oral, porém, quando tomado por via retal, não prejudica tanto o sistema digestivo. Lyn mantinha tudo hidratado usando um tubo trabalhado a partir dos degraus de uma escada. A situação não parece nada agradável.
Infelizmente, essas informações nem sempre são divulgadas. Em 1884, um iate Inglês, Mignonette, partiu para Sydney a partir de Southampton, mas quando virou em um vendaval próximo do Cabo da Boa Esperança, a equipe foi obrigada a ficar em um bote salva-vidas. Após 18 dias no mar, vivendo de nabos que tinham recuperado e tartarugas, dois dos homens famintos resolveram matar e comer um membro da tripulação. Após o resgate, os dois homens foram condenados em um caso legal histórico, quando foram acusados por assassinato.
A tentação de José Ivan em se entregar ao canibalismo quando seu companheiro morreu deve ter sido alta, mas o homem se manteve nobre para se alimentar de tartarugas. Ele afirma que sua saúde mental foi sustentada por uma cópia da Bíblia que ele tinha guardado consigo.
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