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Queimada de cana-de-acúcar deve ser extinta em São Paulo até 2014


O Estado de São Paulo é responsável por 60% da produção nacional de cana-de-açúcar e por 25% da mundial. Ver em Mais Informações
Em regiões interioranas como Araçatuba e Presidente Prudente, a produção canavieira chega a representar mais de 80% do valor da produção agrícola regional. Entre janeiro e agosto de 2012, a cultura da cana-de-açúcar representou 38% das admissões para o setor agropecuário paulista. Em 2014, os produtores desse insumo deverão eliminar a adoção de queimadas na colheita, conforme determina o Protocolo Agroambiental, assinado pelo governo de São Paulo, por representantes da indústria sucroalcooleira e da Organização de Plantadores de Cana da Região Centro-Sul (Orplana). Mais Informações

O processo de queima antecede a colheita da cana-de-açúcar. A prática é adotada para melhorar a produtividade dos cortadores, reduzindo o número de lesões causadas pelas folhas cortantes da cana e os ataques de cobras e de outros animais peçonhentos que podem ser encontrados em canaviais. Contudo, a queima emite materiais particulados que se precipitam na forma de fuligem, poluindo o ar. Essas partículas podem afetar negativamente a saúde das pessoas, causando enfermidades relacionadas ao aparelho respiratório, conforme atestam os pesquisadores Carlos Santejo Saiani e Bruno Benzaquen Perosa no artigo “Efeitos da mecanização da colheita na saúde”, publicado em setembro na revista Agroanalysis.

A partir da segunda metade dos anos 1990, a adoção de processos de mecanização passa a ser cada vez mais comum no setor sucroalcooleiro. A utilização de colheitadeiras configura-se como alternativa adequada para a colheita da cana sem a necessidade de fazer queimadas. No entanto, terrenos com declividade acima de 12% dificultam a utilização de máquinas na colheita. “Com o fim das queimadas, as condições de trabalho dos cortadores tende a piorar, uma vez que poderão ficar mais expostos a animais peçonhentos, entre outros riscos”, explica o professor Walter Belik, do Instituto de Economia da Unicamp.

Um outro desafio seria a realocação desses cortadores de cana, dispensados devido aos processos de mecanização, em ocupações mais especializadas do setor (como a de tratorista), uma vez que essas pessoas possuem, em sua maioria, baixo nível educacional. Segundo Belik, a maior parte dos trabalhadores, no passado, eram migrantes que vinham de outros estados na época da colheita e voltavam após esse período. "Na década de 1990, eram aproximadamente 400 mil trabalhadores. Não dá para absorver todo esse contingente, mas aparentemente não houve desemprego com a mecanização. É provável que essas pessoas não estejam mais vindo, além disso, mesmo porque atualmente recebem benefícios do Programa Bolsa Família", afirma o pesquisador.

A extinção dos empregos de cortadores de cana-de-açúcar é esperada para entre os anos de 2014 e 2017, nas usinas e fornecedores que assinaram o Protocolo Agroambiental. Os dados são do artigo "Dinâmica econômica e emprego nas regiões canavieiras no Estado de São Paulo", escrito por Belik em coautoria com os pesquisadores Bruno Perosa e Carlos Eduardo Fredo. O texto foi apresentado no fim de setembro no 37º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs).

Os pesquisadores analisaram como o processo de mecanização está afetando o emprego no setor sucroalcooleiro paulista, em particular nas regiões de Ribeirão Preto, Piracicaba, Presidente Prudente e Araçatuba, sendo essas duas últimas consideradas “regiões novas”, com vocação para a cana-de-açúcar e com grandes áreas subutilizadas em outras culturas agrícolas. Para o estudo, foram utilizados dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) referentes a contratações e demissões, a partir do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) no período entre janeiro de 2007 e agosto de 2012.