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Ladrões vendem fósseis de dinossauros por até 1 milhão de dólares

Trata-se da versão jurássica do roubo de túmulos: caçadores de fósseis saqueiam uma escavação paleontológica, muitas vezes quebrando crânios antigos e roubando dentes, garras e pés valiosos. Muitas vezes, tudo o que resta são fragmentos de ossos fossilizados e um registro científico insubstituível destruído. E nos casos em que os larápios escavam um esqueleto inteiro e o levam para as mãos de empresários ou colecionadores ilícitos, é como se os ossos, enterrados há milhões de anos, estivessem sendo desenterrados apenas para serem escondidos novamente em coleções particulares.
“Isso é gravíssimo”, disse Catherine A. Forster, paleontóloga da Universidade de George Washington e presidente da Sociedade de Paleontologia de Vertebrados. “Não são apenas um ou dois espécimes. Uma boa parte dos bons fósseis simplesmente foi arrancada do que poderia formar um corpo de conhecimentos, e poucos voltam a ser vistos.” Além disso, embora alguns cientistas esperassem que um destacado processo judicial movido em Nova York no ano passado sobre a venda de um raro dinossauro mongol por um milhão de dólares reduzisse a incidência de escavações ilegais, isso não parece ter acontecido. Mark A. Norell, diretor do setor de Paleontologia do Museu Americano de História Natural, em Nova York, disse que a visita ao deserto de Gobi durante o verão deixou claro que os saques continuam “a todo vapor”. Philip J. Currie, paleontólogo da Universidade de Alberta, contou ter descoberto que 98 esqueletos do dinossauro Tarbosaurus bataar (às vezes chamado de Tyrannosaurus bataar) foram destruídos ou removidos por saqueadores na Mongólia. Menos de uma dúzia estão nas mãos de cientistas, diz ele. E ele identificou que muitos outros esqueletos fósseis foram saqueados do Gobi, incluindo 86 de dinossauros-avestruz. (Remover fósseis da Mongólia é crime desde 1920.) Embora a era dos dinossauros tenha durado cerca de 165 milhões anos, encontrar seus esqueletos é relativamente difícil: apenas cerca de 3000 são conhecidos. Cerca de 1.300 espécies de dinossauros foram identificadas, disse Norell – sendo que mais da metade vem de um único esqueleto e, talvez, um terço de um único osso. Os paleontólogos dizem que não têm como alvo aqueles que fazem escavações em busca de fósseis profissionalmente, que trabalham dentro da lei e cautelosamente. O que pedem é que o conglomerado de leis que tratam do roubo e do contrabando de dinossauros seja cumprido e se torne mais rígido ao redor do mundo, e que colecionadores particulares exijam provas da origem de fósseis antes de comprá-los – assim como questionariam a autenticidade de um quadro ou uma antiguidade. Do contrário, dizem os cientistas, verbetes valiosos do livro da vida da Terra serão perdidos para sempre, incluindo informações sobre onde exatamente foram encontrados os fósseis, em qual formação geológica as criaturas estavam, como se encontravam no solo, como foram descobertas e precisamente quando viveram – isso para não mencionar o que as levou à morte. “É preciso perguntar sobre a proveniência”, disse Norell. “Isso funciona no mundo da arte, mas não chegou ao mundo dos fósseis.” A Associação de Ciências Paleontológicas Aplicadas, um grupo profissional que representa colecionadores e negociadores particulares de fósseis, também está incentivando seus membros a educarem a si próprios e ao público sobre a legalidade dos espécimes. A corrida moderna pelos fósseis começou para valer depois de o Museu Field de Chicago pagar 8.360 mil dólares em 1997 pelo Sue, o mais completo esqueleto de T. rex já encontrado, disse Kenshu Shimada, professor da Universidade DePaul, em Chicago, e diretor de assuntos governamentais da Sociedade de Paleontologia. Pouco depois, o fenômeno da compra e venda on-line através de sites como o eBay decolou, abrindo as portas do mercado internacional para os fósseis. Para Shimada, a Sociedade de Paleontologia ficou tão preocupada com a extensão do comércio ilegal de dinossauros que fez um levantamento dos “paleocentros”, reunindo informações de 20 países sobre o local onde os fósseis estão, quais leis os regulamentam e como as leis são aplicadas. Currie disse que há uma preocupação particular com a Bacia do Nemegt, no deserto de Gobi. Trata-se de um dos dois melhores sítios de dinossauros do planeta, disse ele, com uma grande variedade de fósseis e milhares de pegadas. O T. bataar, de 70 milhões de anos, por exemplo, foi um parente asiático do Tiranossauro rex, e um dos últimos dinossauros a evoluir, um dos mais sofisticados e um dos mais perigosos – ainda assim, grande parte do seu ciclo de vida permanece desconhecida. “Um dos sítios mais espetaculares do mundo para a compreensão de dinossauros está sendo destruído por saqueadores”, disse Currie. Para Currie, seria um sonho explorar a bacia como um ecossistema antigo, aprendendo sobre como dinossauros interagiam uns com os outros e com seu meio ambiente. Muitos enigmas permanecem. Por exemplo, os cientistas esperam encontrar muito mais dinossauros herbívoros do que carnívoros em uma camada da bacia, mas os restos de carnívoros predominam. Por quê? Embora a ação judici
al bem sucedida do governo mongol com relação ao esqueleto do T. bataar não tenha dado um basta aos saques, ainda assim ela surtiu outros efeitos. A venda foi anulada, e o contrabandista, Eric Prokopi, um negociante de fósseis de Gainesville, na Flórida, se declarou culpado em um processo criminal. No momento, ele aguarda a sentença. O esqueleto foi devolvido para a Mongólia em maio. Como resultado, o país criou o seu primeiro museu de dinossauros, na capital, Ulan Bator, com o esqueleto repatriado como a atração principal, disse Minjin Bolortsetseg, o novo paleontólogo chefe do museu. Vinte e dois outros fósseis mongóis deverão ser repatriados em breve. No entanto, para Bolortsetseg, é improvável que os saques parem antes de o governo da Mongólia proteger os sítios, envolver os governos locais no policiamento dos espécimes e educar o público sobre o valor histórico dos fósseis. (Fonte: Folha.com)

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